A Otorrinolaringologia, em seu transcurso histórico, é compreendida como uma especialidade médica correlacionada às “afecções de ouvidos, nariz e garganta”.
Em sua prática clínica há um grande desafio, o fato de não apresentar um órgão ou sistema ou aparelho único ou exclusivo como seu objetivo principal de atuação. Outras especialidades apresentam essa correlação direta.
Na otorrinolaringologia teremos vários órgãos e sistemas ou aparelhos que se sobrepõem em suas funções, compondo-se uma grande “rede” funcional, com diferentes características complementares, tendo como grande imagem a fisiologia da comunicação humana.
- Aparelho auditivo: das orelhas ao sistema nervoso central; responsável pela audição e linguagem.
- Aparelho Vestibular/Labirinto: correlacionado ao equilíbrio e vinculado à audição, visão, cerebelo/sistema nervoso central, sistema nervoso periférico, aparelho locomotor (ossos, músculos e tendões), estruturação psíquica, metabolismo (digestão, glândulas e hormônios), aparelho cardiocirculatório, aparelho respiratório, vias urinárias, aparelho reprodutor-sexual, sistema imunológico,entre outros; o equilíbrio é conquistado por uma grande síntese das informações dessas diferentes instâncias pelo Labirinto.
- Vias aéreas: o conjunto do aparelho respiratório em todos os aspectos e correlações incluindo-se o nariz, seios paranasais, faringe, boca e ouvidos médios – assim como a laringe, traquéia, brônquios e pulmões; sinais e sintomas ligados a adoecimentos inflamatórios, tumorais, alérgicos, na relação entre inspiração e expiração, portanto, em todos os aspectos do processo de comunicação humana, como dificuldades na expressão (fala/linguagem; ressalta-se a importância da laringe na respiração, aprendizagem, linguagem, deglutição, psiquismo e na biografia humana.
- Estrutura crânio-facial, postural e orofacial: vários órgãos e sistemas que se integram proporcionando sua complexa fisiologia (ex: lesões orais, malformações craniofaciais, adoecimentos buco-maxilo-faciais, o respirador oral, aspectos relacionados a fala, canto, mastigação e deglutição, entre outras; grandes interfaces com várias outras áreas de atuação, como odontologia, ortopedia e fisiatria.
- Sistema nervoso periférico e central: pode-se ressaltar três grandes funções: a sensibilidade (dores craniofaciais, cefaleias, pares cranianos, disfunção de ATM, perdas de sensibilidade, etc.), a motricidade (movimento das estruturas crânio-faciais-cervicais, como paralisias faciais, deglutição, sucção, mastigação, respiração, fala, equilíbrio/visão, movimento postural global) e pensamento, linguagem e aprendizagem.
- Sucção, mastigação e deglutição: correlações com gastrenterologia, neurologia, nutrição, fonoaudiologia, entre outras.
- Olfato, paladar e demais sentidos.
- Pele e anexos, assim como o sistema imunológico.
- Psiquismos, afetividade e emoções: diversos sinais e sintomas psicossomáticos e neurovegetativos, assim como dificuldades na estruturação psíquica e desenvolvimento da linguagem.
- Linguagem, aprendizagem e comunicação humana, tanto na captação dos estímulos sensoriais, na compreensão quanto na expressão (gestos/ações/fala/canto/escrita/movimento expressivo global).
- Tumores: interfaces com oncologia e várias especialidades clínicas e cirúrgicas (ex:cirurgia de cabeça e pescoço).
- Glândulas e metabolismo: funções das mucosas, excreção, produção de hormônios (ex:glândulas salivares, tireóide, entre outras); interfaces com gastrenterologia, reumatologia, infectologia, urologia, entre outras.
Otorrinolaringologia e Antroposofia
A Antroposofia oferece uma visão de homem, de humanidade, de evolução da Terra-Cosmos que permite tornar a abordagem clínica ampla, considerando-se todos os complexos aspectos da condição humana em sua história de vida (físico-anímico-espiritual).
Assim, os sinais e sintomas aparentemente isolados, que não se relacionam entre si, são integrados a uma grande imagem fisiológica e fisiopatológica, portanto, inseridas no grande contexto, dos fatores inatos ao ambiente.
Ou seja, as questões específicas de células/microbiologia/órgãos/sistema inserem-se em uma grande trama que é a individualidade em sua relação com o ambiente: o contexto familiar, a vida emocional, as comunidades envolvidas (incluindo-se os aspectos culturais) e os aspectos espirituais em diferentes âmbitos, trabalhando-se do individual ao coletivo para a promoção da Saúde.
São utilizados medicamentos que a Natureza oferece (reino mineral, vegetal e animal), dinamizados ou não, integrados aos medicamentos sintéticos (criados a partir da tecnologia) quando necessários, e também a indicação de procedimentos diagnósticos e cirúrgicos, dentro do amplo contexto.
Associados aos medicamentos temos diversas indicações terapêuticas integradas, especificamente antroposóficas (vide site), assim como das ciências da saúde (psicologia, fonoaudiologia, fisioterapia, odontologia, nutrição, etc.) e das ciências das humanidades (pedagogia, psicopedagogia, sociologia, antropologia, etc.), tendo por objetivo constituir-se uma comunidade médico-terapêutica-pedagógica.
Portanto, há uma abordagem do contexto, de forma integrada e interdisciplinar, visando as transformações necessárias clínicas (individuais-coletivas-existenciais), diante de fenômenos/sinais/sintomas apresentados, no sentido de gerar Saúde.
Assim, a partir da otorrinolaringologia se chega a prática da clínica médica, medicina comunitária-social, medicina de família e medicina escolar.
O eixo central a ser trabalhado é o da comunicação humana, sendo, portanto, uma prática a partir de uma grande Imagem de homem, em seu desenvolvimento pela linguagem.
“Somos seres humanos pela organização da laringe e por tudo o que a ela se relaciona… E todo o resto da figura humana, até o menor detalhe, foi assim formado e plasticamente configurado para que o homem, na atual escala da evolução, seja como a continuidade de seus instrumentos da linguagem. Os instrumentos da linguagem são, antes de mais nada, o elemento decisivo para a forma do homem.” – Rudolf Steiner