Esta pergunta nos leva a outra: onde encontramos internamente as forças de sustentação da coragem, da resiliência, e da autoconfiança?
Sautogênese, é uma abordagem que pesquisa as forças de sustentação da saúde física e anímica do indivíduo, iniciada pelo sociólogo Aaron Antonovsky(1923-1994) em Israel.
Salus salutis, do latim, significa saúde.
Genesse, do grego, significa origem.
Em suas pesquisas, Aaron Antonovsky, percebeu que, entre os seus pacientes sobreviventes do Holocausto, existiam aqueles que conseguiram se manter com o espírito alerta, se adaptaram às mudanças, foram capazes de recuperar a saúde e reconstituir as suas vidas. E surgiu nele a pergunta: quais seriam os fatores determinantes para a sustentação da saúde física e anímica de um indivíduo?
Conheça abaixo os conceitos da Salutogênese para a saúde no campo físico, anímico e da consciência:
O que na infância era o campo de proteção criado pelos limites, transforma-se na vida adulta na capacidade de conscientizar-se dos próprios limites e das reais possibilidades. Só reconhecendo os limites é possível ampliá-los.
Conviver com limites tem a ver com ir de encontro a uma identidade própria. Diante de um impedimento posso reconhecer: isto é um fato, posso aceitá-lo e conviver com ele. Aceitar os fatos não significa fugir das coisas que você pode transformar. A aceitação de limites é uma das modalidades de aquisição de consciência. Encontrar os próprios limites é igual a autoconhecimento real, verdadeiro, e desta forma não só se evita o stress mas se adquire a capacidade de suportá-lo. Todo organismo sadio tem em alto grau a capacidade de adaptar-se. Diante do que lhe é estranho, da oposição, o indivíduo pode se confrontar e se fortalecer conseguindo intensificar a suas próprias defesas, adquirindo forças de resiliência e recuperarando o equilíbrio perdido.
Os cuidados físicos que, na infância foram a base de sustentação da criança, na fase adulta se transformam em forças de retaguarda.
Procurar segurança física tais como ter um lar, ter alguma reserva financeira, ter previdência, sentir-se amparado por recursos materiais, significa desenvolver sustentação pelas próprias forças. A pessoa que sente que tem este tipo de retaguarda adquire um nível básico de estabilidade emocional que consegue fazer frente às situações adversas.
O que na infância era o aconchego do colo, o acolhimento, o calor, transforma-se na vida adulta em confiança na relação humana. Isto significa conseguir se sentir amparado pelo afeto do seu círculo de relações.
Pessoas que passaram por condições extremas de vida contam como conseguiram superar a situação devido à ligação com amigos, parentes, etc. Quando a pessoa dispõe de um network de relações verdadeiras, a vida vale a pena de ser vivida, apesar do medo (sentimento básico da infância).
O que na infância era a alegria e o entusiasmo do brincar transforma-se na vida adulta em criatividade e vida cheia de significado e responsabilidade.
O que você faz não pode estar desarticulado do que você sente e do que você quer. Fortalecer a consciência de que você está inserido dentro de um contexto universal, que faz parte de um todo em evolução no qual tudo pode ser compreendido e alcançado, tudo está em sintonia. O mundo está estruturado dentro de uma ordem e consistência e não é aleatório e imprevisível
O individualista amoral é aquele que não se responsabiliza pelas consequências dos seus atos. Isto é reflexo da educação intelectual precoce na infância, quando a criança aprende coisas para as quais não encontra correspondência no seu cotidiano.
O que na infância era a vivência de se sentir envolvido por forças de amor transforma-se na vida adulta na crença em uma esfera superior da vida, na fé em um Deus, no sentir-se protegido por algo que está além de si e das suas forças.
Ligar-se ao plano espiritual é uma das mais poderosas fontes de saúde, pois significa que você alinha o seu Eu com forças primordiais e isto proporciona confiança na força e continuidade da vida.
O que na infância era a vivência de um ritmo, de uma rotina estruturada, desenvolve-se na idade adulta em coerência de vida. A pessoa que reconhece e leva em consideração, as suas necessidades e seus princípios; busca a reciprocidade entre o que ela pensa, sente e quer.
A falta desta coerência pode levar ao estereótipo do indivíduo moralista que embora, politicamente correto carece de livre arbítrio e discernimento. É aquele que segue regras. E espera das convenções e da esferas das autoridades que o que é certo e errado sejam definidos externamente, como se fosse uma criança.
O que na infância foram todas as condições que proporcionaram uma constituição saudável transformam-se na vida adulta em forças de resiliência.
O que caracteriza a nossa época é o conhecimento do mal; antes o mal era excluído, estava fora de você. Hoje, você abre a mídia pela manhã e vê estampada a raiva e a mágoa que você está carregando, elevada às últimas consequências. Este é o drama da maturidade (autoconsciência): tudo tem relação comigo. Podemos nos proteger do mal com leis humanas, com a justiça romana, mas só nos resta combater o mal enfrentando-o internamente.
Isto significa se alinhar com o bem. Cada ação benéfica repõe no mundo o bem que o mal eliminou. O individualista ético segue as diretrizes do seu próprio ser que se desenvolve ancorado em um trabalho de autoconhecimento e autodesenvolvimento.