Eu sinto qual desencantado
O menino-espírito no colo da alma.
Gerou o santo verbo cósmico
Celeste fruto da esperança
Que cresce em júbilo nos mundos
Do chão divino em meu ser
–Rudolf Steiner–
Um menino nasceu o mundo tornou a começar. João Guimarães Rosa
Essa frase de J.G.R. nos lembra que por maiores que sejam as catástrofes externas, mais dolorosos que sejam os conflitos internos o nascimento da criança divina trás a possibilidade de um recomeço. Rudolf Steiner escreve que algumas Sibilas (oráculos da antiguidade) quando souberam que Deus iria nascer como um menino questionaram e se indignaram com essa mudança futura. Às vezes é difícil compreender a grandiosidade desse gesto de humildade de um ser divino: se aprisionar em um corpo humano para aprender a ser humano. Sabemos que ele está entre nós até o fim dos tempos, que ele se manifesta no culto sacramental, e que algumas pessoas o percebem na atmosfera da Terra. Mas todo ano o Natal chama para esse recomeçar.
Advento, adventure. Quatro semanas de aventura. Ele já está entre nós, mas ele vem mais uma vez ao nosso encontro. Um tempo de praticar a Espera. Como praticamos a espera em nossos dias? O que observamos nas crianças, nos adultos, nos idosos? Ás vezes a nossa espera é preenchida pela antecipação ansiosa, pelo consumismo, pela correria, pelo barulho descontrolado. Será que precisamos reaprender a cultivar a espera do tempo de Deus?
Sabemos que o dia de Natal vai chegar. Karl Valentim escreveu: “hoje à noite tenho visita; espero estar em casa”. Muitras vezes não estamos em nós mesmos. Nossos pensamentos e sentimentos estão fora da ordem. Será que percebemos quem chega. Quem bate à porta. Eu ouço quem chega?
Tempo de nascimento. Mas não basta nascer lá fora,em um estábulo ou em uma gruta. Não basta nascer na pobreza entre um boi e um burrinho. Ele quer nascer dentro de nós. Ele quer nascer dentro de mim. Preciso ampliar os meus sentidos e a minha atenção. Ele escolheu o coração para ser sua morada.