Por Edna Andrade
Do nascimento aos 21 anos temos o período do desenvolvimento físico, considerado a etapa pedagógica da vida, quando estamos sujeitos às influências dos valores e normas familiares, da educação e do meio ambiente. A autoridade está fora de nós. Podemos considerar também, como fatores determinantes do desenvolvimento nesta etapa, a constituição hereditária, os talentos, as capacidades natas e as predisposições de saúde.
Dos 21 aos 42 anos, temos a etapa do amadurecimento anímico: A autoridade é internalizada e através da autoeducação, podemos reconhecer o impulso individual que trouxemos para esta vida, como marca e tarefa pessoal. Os 21 anos correspondem a um segundo nascimento. Só́ que, diferente do nascimento físico, temos um nascimento espiritual que é o desabrochar de uma consciência de si na vida interior.
A história da vida nos mostra nossa origem, nossos valores, a educação que recebemos, os nossos potenciais, as nossas capacidades e anseios. E nos permite reconhecer como este legado influencia os padrões de comportamento e os desafios de autodesenvolvimento da maturidade anímica.
Ao posicionar os 21 anos como o fiel da balança, as duas etapas podem ser colocadas frente a frente e a partir deste espelhamento torna-se possível enxergar como as condições de uma etapa se refletem nas condições da outra.
No lado esquerdo da curva do Espelhamento temos a fase da Adolescência que vai dos 14 aos 21 anos. Em frente, do lado direito da curva, temos a fase da Juventude que vai dos 21 aos 28 anos.
A Adolescência começa quando surge aqueles sentimentos vagos de que as coisas já não são como eram antes. Até por volta de 14 anos, o púbere sentia-se parte da família, da turma da rua, ou da galera da escola. Era filho de fulano de tal, pertencia a tal família.
De repente, vem aquela sensação esquisita de diferenciação: sou mas não sou. Ainda não sei quem eu vou ser, mas sei com certeza que eu não quero ser como o meu pai, ou como a minha mãe. O meu casamento não vai ser como é o deles. A minha carreira vai ter um outro rumo, etc.
Muitas vezes, esta separação ocorreu de fato, através do intercâmbio cultural, por exemplo, ou mudança de escola, de bairro, de cidade.
A vida sentimental do adolescente flutua nos opostos: os sentimentos oscilam entre simpatias (gosto) e antipatias (não gosto). Entre ser aberto, extrovertido e social ou, fechado, introspectivo e antissocial. A vida emocional é vulnerável: ninguém pode descobrir o que ele sente. Ele se afirma nas imagens dos ídolos. É a turma que confere identidade. O adolescente pode facilmente fugir para zonas de conforto ou gozo lúdico da existência (jogos e vícios).
A consciência da adolescente é do tipo instintiva, ligada as necessidades físicas: defesa de território, bateu/levou, ataque/defesa, quarto/livro/computador; competir para provar que é a melhor; afirmação da autonomia (ninguém manda em mim, eu não pedi para nascer). Ela usa de artimanhas para conseguir o que quer. São os hormônios, costumam dizer. Ou a “aborrescência”, dizem outros.
Os 21 anos é o marco do nascimento do Eu. A consciência de Eu é do tipo faraônico. Na juventude temos a impressão que descendemos dos deuses, sentimos a força do divino, da amplidão da vida. A juventude tem asas.
Enquanto a consciência do tipo instintiva da fase anterior tem relação com os hormônios e atende às necessidades do corpo, na Juventude a consciência de Eu se relaciona com as aspirações que direcionam o jovem para o mundo.
Quando o Eu não encontra sentido na vida do jovem (por exemplo, quando esta é limitada pela falta de oportunidades) a força do interesse pelo mundo torna-se fraca. O jovem tende a se acomodar em uma rotina, torna-se conformista; tem tendências à auto-indulgência e a se desconectar da realidade.
No lado esquerdo da curva de Espelhamento temos a fase da Puberdade que vai dos 7 aos 14 anos. Em frente, do lado direito da curva temos a fase Adulta que vai dos 28 aos 35 anos
A Puberdade começa na troca dos dentes. Este é o sinal que o corpo transmite que as forças vitais estão, parcialmente, liberadas do processo do crescimento e se tornam disponíveis para o aprendizado intelectual.
A criança já́ atravessou a rua, já́ está na escola, o seu mundo se ampliou. Na escola, aos poucos, o Coelhinho da Páscoa e o Papai Noel vão ficando para trás, são parte da fantasia da infância. A formação de juízo vai se estabelecendo e o aprendizado vai ganhando complexidade. As regras e valores estabelecidos desde cedo pela família orientam para o que é certo e para o que é errado. O que educa nesta fase, além das normas e valores, é a presença, no meio ambiente, de uma autoridade amada, de alguém a quem se admire, a quem se reverencie.
Os sentimentos fluem para o mundo no pulsar do coração e pulmão. O sistema que está amadurecendo é o rítmico: a respiração se regulariza na relação com os batimentos cardíacos e a vida de sentimentos é mais básica do que na adolescência. A relação com tudo é principalmente através dos sentimentos. Por exemplo: a criança aprende melhor se gostar do professor e isto vale para todas matérias. O professor é aquele que traz o conhecimento e o mundo para a sala de aula. O potencial educativo é um ensino criativo, humanizado; não é hora de enfatizar o aprendizado técnico.
É por volta dos 9 anos, um momento de transição do crescimento chamado de Rubicão, que o púbere acorda para a percepção de si mesmo no mundo. Geralmente com uma vivência de sofrimento: ele descobre que é narigudo ou dentuço ou peludo e assim por diante. Na sua vida emocional se estabelece uma discriminação entre si e o mundo. E ele aprende a se virar, a se defender, a interagir, a conquistar seu espaço social.
O Rubicão é a travessia da infância para a puberdade. A infância fica definitivamente para trás e a criança dá mais um passo na direção da sua maturidade anímica.
Os 28 anos é o momento em que o Eu, que se fez presente nos 21 anos, adentra ainda mais na vida interna e começa a alavancar a vida externa. É a fase em que tornam-se necessárias coragem, iniciativa e forças criativas para consolidar, não só o mundo externo, mas também o mundo interno.
Consolidar o mundo externo significa a expansão do conhecimento técnico adquirido na faculdade, a escalada profissional, a aquisição de patrimônio, a constituição da familia. É a razão ditando o que precisa ser feito, relacionando as coisas entre si, tirando conclusões, estabelecendo estratégias e metas a serem alcançadas.
Consolidar o mundo interno é se apropriar das normas e valores que foram recebidos na puberdade, os quais precisam, não somente serem apropriados, como, alguns deles, precisam ser transformados. Senão, eles permanecem como atitudes recorrentes que não contribuem para o desenvolvimento pessoal. Nos processos de desenvolvimento, os padrões recorrentes são chamados de distúrbios de comportamento.
E onde vamos buscar coragem e iniciativa para consolidar o lugar no mundo e ao mesmo tempo fazer as transformações de comportamento que precisam ser feitas?
A resposta é: dentro de si, onde a influência da antiga autoridade amada externa da puberdade pode ser transformada agora em autoridade própria. A autoridade amada da puberdade continua a ser uma contínua fonte de verdade. E, a mesma objetividade que o adulto aplica no mundo, pode ser direcionada para a educação da sua vida interna. É surpreendente descobrir esta associação da razão com a índole, a verdade do coração, o que flui do mais íntimo, do amor que recebemos na fase inicial do aprendizado intelectual por volta ados 7 anos.
No lado esquerdo da curva do espelhamento temos a fase da Infância que vai do nascimento até os 7 anos. Em frente, do lado direito da curva temos a fase da Maturidade que vai dos 35 aos 42 anos.
Na Infância, nascemos totalmente desamparados, totalmente dependentes e vulneráveis. Além de cuidados, de alguém que nos alimente e limpe o bumbum, precisamos ser carregados no colo, aquecidos, aconchegados. Nascemos chorando, gritando por amor. E de amor do tipo incondicional, o que significa dedicação por inteiro. Aos poucos vamos dando conta de viver nesta terra dura, mas divertida. As necessidades só aumentam. Necessitamos de proteção, de limites, da estrutura e da rotina que um lar oferece.
A infância é a fase onde desenvolvemos o sistema nervoso central, temos que sustentar a cabeça em cima dos ombros e fazer conquistas muitos grandes tais como andar, falar e pensar. Precisamos para isto de muito apoio, de um ambiente alegre e espaço para brincar e para desenvolver a constituição física. O que principalmente carecemos na infância são: cuidados, amor, proteção, ritmo, alegria e espaço. Estas condições estruturam a constituição física de um indivíduo que é a base da sua saúde anímica e espiritual.
A Maturidade é sinônimo de autoconsciência. O Eu adentrou totalmente na nossa vida anímica. Cada um de nós é uma personalidade, com experiência própria, diferenciado., único. Não somos pedra, planta, nem animal. Somos seres conscientes de si. Somos capazes de direcionar nossas forças anímicas para o autoconhecimento e desenvolvimento próprio. Assim como os talentos, as capacidades, e as qualidades que trouxemos, ou que adquirimos podem ser conscientemente conduzidos para ampliar o conhecimento e participar do desenvolvimento do mundo externo. Podemos agregar valor próprio ao mundo.
A distância entre mim e o mundo se acentuou porque eu me tornei um mundo à parte”. Este é um estado emocional recorrente! Muitos sentimentos de isolamento e de abandono se originam deste passo no desenvolvimento pessoal.
Enquanto na infância foi preciso e sentir-se acolhido no todo, na maturidade é preciso se sustentar como um ser a parte.
Como trazer para a fase da Maturidade os cuidados, amor, proteção, ritmo, confiança, alegria, espaço e liberdade que foram as fontes de sustentação da saúde na infância?